Já falamos antes sobre os Festivais de música portuguesa. Hoje vamos contar a história dessa dupla, eles cantam baixinho, para não chamarem a atenção, e raramente, para não se cansarem, e sem promoção, para não atraírem multidões. 

Na dupla António Zambujo e Miguel Araújo, quem é quem?

Este duo fantástico tem os seus dois compositores. Por um lado, António Zambujo, atraente, com um olhar doce e uma voz extraordinária, é o jovem que renovou a música portuguesa, algo semelhante ao que João Gilberto representou para a bossa nova ou Chet Baker no jazz. Foi abençoado por Caetano Veloso: “A voz de Zambujo arrepia-nos a espinha e faz-nos chorar”. 

Em Espanha, tem um público fiel, mas ainda não tão numeroso como na Europa ou no Brasil, o que nos deve fazer reflectir sobre a estranha distância entre vizinhos. Portugal é um destino turístico para muitos espanhóis, mas ainda temos dificuldade em render-nos à sua língua, que contém tanta riqueza cultural. 

Por outro lado, Miguel Araújo, que os acompanha nesta faceta, é um dos artistas mais marcantes do panorama musical português, um dos melhores letristas da actualidade, criador de êxitos como Reader’s Digest para alguns dos melhores artistas portugueses como António Zambujo, Ana Moura ou Carminho e autor de “Giesta”, um dos melhores álbuns do ano, entre outros. Tivemos uma boa conversa com ele sobre este último trabalho e o seu processo de criação.

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A história

Mais do que fãs, têm amigos e, com duas guitarras e duas vozes, dedicam-se à doçaria fina. Os portugueses Miguel Araújo e António Zambujo juntaram-se para cantar uma vez, mas sem querer estão prestes a celebrar um ano de actuações, sempre com o sinal de “esgotado”. 

Amigos desde quase sempre, as suas carreiras foram – e são – separadas, pois só coincidem na boémia nocturna. Musicalmente, Araújo, do norte (Maia, 1978) e Zambujo, do Alentejo (Beja, 1975), seguiram cada um o seu caminho. Araújo deu uma centena de concertos este ano, Zambujo mais de 150; mas numa noite de ginjinhas tiveram a ideia de juntar forças.

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Amigos desde quase sempre, as suas carreiras têm sido separadas, pois só coincidem na boémia nocturna. 

Araújo, mais pop; Zambujo, mais fado. Os dois trovadores portugueses estão unidos por um carácter tranquilo e uma vida simples sem multidões, embora, apesar dos seus esforços, tenham conseguido o oposto. Araújo salta das guitarras para o piano, do ukalele para o violoncelo, enquanto a voz única de Zambujo consegue ser Boris Vian e Maurice Chevalier, um fadista sem dramas e um bossa-novista apaixonado; e quando Zambujo se desvia, Araújo salva-o com a sua voz e as suas guitarras de cortar a respiração.

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Depois do sucesso de Rua da Emenda, Zambujo acaba de lançar Até pensei que fosse minha, com canções de Chico Buarque, e em breve, mas sem pressa, lançarão um álbum duplo com os concertos históricos desta dupla acidental que, fiel à sua vida improvisada e ao medo do compromisso, não promete mais concertos juntos, nem os nem os descartam. Não gostam de ser atropelados pelo sucesso e pela sua pressa. Como diz Zambujo, “a pressa é inimiga da perfeição”.