O trabalho que Alexandre Farto (cujo nome artístico de rua é Vhils) executa nos muros em que intervém é uma lufada de ar fresco dentro da disciplina da arte urbana.
Alexandre Farto é um artista multidisciplinar português criado em Lisboa que, depois de se ter iniciado na ilustração, no design gráfico e na animação, decidiu mudar-se para Londres, onde vive há anos, para estudar Belas Artes no Central Saint Martins College of Art and Design, onde se especializou na arte da serigrafia e em diferentes técnicas de expressão.
É na capital do Reino Unido que Alexandre começa a sua experimentação mural. Omitindo o resultado tradicional de pintar paredes com spray, este artista português joga com a arte do claro-escuro, quebrando as superfícies exteriores das paredes e dando-lhes um toque verdadeiramente impressionante.
Em Espanha, é mais conhecido como o autor do grande mural de 64 metros quadrados que homenageia o Prémio Nobel português José Saramago na fachada do campus Madrid-Puerta de Toledo da Universidade Carlos III de Madrid.
Vhils começou a fazer experiências com tinta spray para imprimir a sua raiva nas paredes aos 12 anos no Seixal, a cidade industrial onde cresceu, perto de Lisboa e muito afectada pelas transformações urbanas que o país sofreu nas décadas de 1980 e 1990. Marcado por esta paisagem, o artista continua a investigar a forma como as paredes das cidades podem absorver as mudanças sociais e históricas.
Os seus trabalhos finais, na sua maioria retratos de grandes dimensões, são espectaculares. Para além das suas intervenções murais, Alexandre é um mestre na arte milenar da serigrafia, desde roupas totalmente espectaculares a pinturas perfeitamente detalhadas.
O trabalho urbano de Vhils, sob a forma de poesia visual e exposto em todo o mundo, tanto no interior como no exterior, tem sido descrito como brutal e complexo, mas imbuído de uma simplicidade que fala ao âmago das emoções humanas.
Uma reflexão permanente sobre a identidade, sobre a vida nas sociedades urbanas contemporâneas e os seus ambientes saturados, explora temas como a luta entre as aspirações do indivíduo e as exigências da vida quotidiana, ou a erosão da singularidade cultural face ao modelo dominante de desenvolvimento globalizado e à realidade cada vez mais uniforme que este impôs em todo o mundo.
Alexandre escava as camadas superficiais da nossa cultura material como um arqueólogo urbano e contemporâneo, expondo o que está para além da superficialidade das coisas, tornando visível o invisível e devolvendo significado e beleza a dimensões descartadas enterradas debaixo de uma parede ou de um pedaço de papel.
No seu sítio Web, podemos encontrar mais obras deste artista: gravuras, pinturas, meios mistos com colagem, bem como instalações e vídeos das exposições em que participou.
O artista deixou a sua marca, apresentando em Sevilha uma exposição de painéis de azulejos que presta homenagem ao património cultural partilhado pelos dois países. O próprio Vhils considera “irónico” o facto de ter tido de dar a volta ao mundo com o seu trabalho antes de chegar a Espanha, um país “não só geograficamente tão próximo, mas também culturalmente tão próximo”. Vhils dedicou a sua primeira exposição em Espanha, na galeria Delimbo, em Sevilha, até 9 de Abril de 2022, à celebração da “nossa história comum”.
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